25 fevereiro 2012

Mas que coisa milagrosa!

"Basta observar que nós, brasileiros, somos um povo marcado e dividido pelas ordens tradicionais: o nome de família, o título de doutor, a cor da pele, o bairro onde moramos, o nome do padrinho, as relações pessoais, o ser amigo do Rei, Chefe Político ou Presidente. Tudo isso nos classifica socialmente de modo irremediável. Jamais utilizamos o concurso público e a competição como algo normal entre nós, daí o trabalho que é fazer uma eleição honesta e disputada. Ela implica, inclusive, algo que evitamos: dar opiniões e disputar vontades, revelando abertamente as nossas mais legítimas (e ocultas) diferenciações sociais. Mas que coisa milagrosa!" - DaMatta, Roberto, O que faz o brasil, Brasil? Rio de Janeiro: Rocco, 1984, pp. 77-78.
Comentário: interrogo-me sobre a oportunidade de sabermos se nós, Moçambicanos, também somos marcados pelas "ordens tradicionais" de DaMatta.

3 comentários:

nachingweya disse...

Somos e muito.
Acrescentamos ainda uma classe: a dos libertadores. Só que as coordenadas desta classe estão tão toscamente difinidas que acaba assimilada por algumas famílias e assim esvaziando a epopeia da secular resitência do Povo moçambicano. Infelizmente.

Salvador Langa disse...

Excelente texto para reflexão, completamente excelente.

ricardo disse...

Na minha opiniao somos tambem. A nossa matriz colonial e comum a brasileira. Dela herdamos o muito que fazemos no dia-a-dia...

No caso brasileiro, o federalismo, visto a lupa, da-nos ate uma fotografia e bem mais nitida. Compare-se, por exemplo, os estados do Rio Grande do Sul. Da Bahia. E do Amazonas.
No primeiro, a heranca da Europa central e marcante. Isso reflecte-se tambem no modo anglo-saxonico como se organizam socialmente e ate no grau de competitividade mutua que e bem aceite la. Na Bahia, a matriz e essencialmente Africana e Portuguesa. E a terra das macumbas, pais-pretos e sacis pereres. Um imenso e rico patrimonio cultural, mas tambem imensos tabus enraizados no modo de ser da populacao. Ser competitivo aqui nao e proveitoso, porque o conformismo impera. Finalmente, o imenso Amazonas, com indigenas ilhados em reservas e que so agora comecam a habituar-se a modernidade, e caboclos (mesticos de indios) descendentes de portugueses e espanhois, que herdaram de ambos as "ordens tradicionais" que DaMatta assinalou.

Ora se no Brasil, pais independente desde 1822(?) assim e, imagine-se neste solo com menos de 37 anos de idade, onde antes da colonizacao ate haviam muitos "paises" que a conferencia de Berlim artificialmente uniu e a UA formalizou.

E a isto, acrescentaria (como o leitor que me antecedeu) os libertarios, pelo simples facto de serem destribalizados e emigrados para as cidades, o que so por si, e um acto de conquista e ascencao social.

Alias, pegando a onda, eu iria pedir ao senhor professor que enriquecesse esta minha pequena lista de perolas coloniais e pos-colonias que sao parte da nossa cidadania Mocambicana:

1- Codigo Penal;
2- Codigo do Processo Penal;
2- Regulamento de Financas de 1901;
3- Codigo de Estrada;
4- A Administracao Estatal (organica e estatutos da Funcao Publica);
5- Registos e Notariado;
6- A organica das Forcas Armadas;
7- O Planeamento fisico territorial;
8- A Politica Agraria;
9- A Politica Fiscal;
10- A organica dos tribunais;
11- Material didactico e ate curriculum do Ensino Primario, Medio e Pre-Universitario;
12 - A religiao catolica;
13 - A dieta alimentar e as boas maneiras na maioria dos estabelecimentos hoteleiros e casas de pasto.

Se calhar, esta seria a resposta ao vosso comentario...