25 março 2015

A estrutura e o seu firewall

estrutura [termo para designar em Moçambique o dirigente estatal ou político, regra geral de alto nível] nasce no dia em que um pacato cidadão recebe a tarefa de dirigir algo importante no Estado ou no partido gestor do Estado. A partir desse dia acontece a modificação metabólica do seu ser social. Então, a estrutura distancia-se, cria todo um enorme e sumptuoso conjunto de barreiras e de regras entre si e os outros, de complicados meios de acesso, de sinais de aviso, digamos que se rodeia de um poderoso firewall com a função de mostrar que tem o poder de poder sujeitar os pretendentes ao contacto a um ritual clientelista firme e sem fim. A mentalidade do antigo pacato cidadão, hoje estrutura de grande visibilidade, gestor de imponentes recursos de poder, consiste em distanciar-se do comum dos mortais para ser respeitado. A solene e teatralizada estrutura de hoje exige súplica, temor e vassalagem, mesmo quando sorri, especialmente quando sorri - esse é um dos seus maiores prazeres. Como disse um dia Samora Machel, os homens podem alterar situações, mas novas situações podem transformar os homens, mesmo os mais revolucionários.

1 comentário:

nachingweya disse...

Brilhante radiografia do dirigente moçambicano.
No próprio fiada nomeação alguns já não respondem a algumas chamadas e SMS de felicitações. O firewall tem efeitos instantâneos.
O contrário também é válido; quando chega a desnomeação o pinto perde o pio e torna-se peganhento , mostra-se disponível e descorre criticamente sobre a incompetência dos sucessores as quais são, geralmente, a metástases do seu proprio legado.